Vontade sentida tem vida própria. Tem forma, age e ignora limites. É aquela mão generosa que te empurra do abismo quando teu coração pede pra voar. É mão sábia que te aquieta a voz que insiste em saber sobre a visão da queda e a firmeza do solo.
É a vontade que dá a garantia de que não é queda e sim salto, e por isso mesmo, pode ser para o alto. É a mesma que afirma com propriedade que o chão, seja ele firme ou não, depende muito mais da forma como teus pés escolhem tocá-lo.
Ela - a vontade- substantivo apenas, palavra proferida, não tem nem dá movimento, vazia de vida, desconhece exclamações. Sequer ecoa no vento, porque desconhece a direção. Não vibra, não reverbera. Não escreve história. É truque fonético de mau gosto, ludíbrio que desrespeita a própria língua. É seca no peito.
Vontade, de verdade, é arbitrária. Entende no não o chamado à desobediência. É o convite ao atrevimento que se espera, porque sabe, se é vontade de coração, que há do outro lado o abraço que aguarda a surpresa. Tem certeza.
Vontade tem barulho de motor de carro, de toque de celular na madrugada, de campainha na porta da frente. Tem gosto de beijo sem fim, de intimidade ofertada. Cheiro de perfumes que combinam, de corpos que se dominam.
Que haja, pois, o risco. E a vontade desenhando o traço. Ou tudo acabando em ponto.
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