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domingo, 29 de novembro de 2009

Dama*


E então, enfim vou dançar
Ao som da tua melodia silenciosa.
Quero ver se acerto o passo
Cá bem longe do teu espaço
Pra não correr o risco de te pisar.
Vou feito dançarina formosa
Daquelas que invadem o salão
Duas voltas,
Uma taça,
Meia prosa
E mais um a me levar pela mão.

* O "batismo" do poema foi feito por Renata Aragão Lopes, lá do Doce de Lira, e carinhosamente acatado.

Imagem capturada do blog conversasemoff.worpress.com

segunda-feira, 23 de novembro de 2009


"(...) Esparramados no mundo
Molhamos o mundo com delícias
As nossas peles retintas de notícias(...) (C.Buarque)"

Antes de dormir o pedido:
Pro dia nascer em aquarela.
Mas foi a flor amarela
A primeira imagem a me aguçar o sentido.
Cor que clareou o meu quarto
Aqui, esse canto esquecido
Que guarda meu choro escondido
Que faz profundo o canto do olho.
Ora finjo, ora sou
Às vezes digo que não estou
Finco o pé ou parto
Faço pedaços do que me é inteiro.
Foi a flor amarela que me fez lembrar
Que eu posso até nos enganar
Desfazer, inverter os ponteiros,
Mas independente daquilo que já se esqueceu
Ainda é a lembrança do teu sorriso
A chave do meu.

Imagem: arquivo pessoal

"Que papel faz um sorriso entre o aqui e o paraíso?" (Alice Ruiz)

quarta-feira, 11 de novembro de 2009


E dou risada de um grande amor...mentira... (C.Buarque)


Mas era eu,
Que por não ser mais criança
Não podia ter caído nessa brincadeira
Nesse jogo de mau gosto
De te fantasiar de ser o oposto
Da mesmice corriqueira.
Hoje guardo de herança
A solitária idealização
Dos milhares de euteamos repetidos em vão,
No meu pé, o teu beijo
Dessa máscara de desejo,
Desejo de um só endereço,
Menor, bem menor que mereço
Muito menos que eu tinha pra dar.
Vai querer me negar?
Quer dizer que um dia chegou a me amar?
Que num estalar se transforma o amor em erro
E fazes dele o enterro
Sem sequer me convidar?
Faz um favor:
Recolhe cada uma das cenas de teatro mal-feito
Engole cada um dos versos baratos
Apaga aquelas letras escritas sem pudor.
Todos os atos
Registrados de um jeito
Que cicatrizaram embaixo do cobertor.
Não sei de onde veio essa autoridade
De usar da inverdade
Pra despertar a boba menina
Se fazendo de bom rapaz.
Não, não fala mais!
Nem canta no meu ouvido em nenhum idioma
Recompõe, ou melhor, desafina
Pra que eu não consiga traduzir
E possa, enfim, dividir
O que todo esse tempo foi soma.
Aproveita e me livra da cela
Eu não caibo em abertura de novela
E esquece Cazuza e Bebel
Pois não precisas dizer mais nada
Fica assim, onde estás
No lugar de onde nunca saiu
No teu posto, de onde nunca permitiu
A minha oferta de céu,
Minha porta escancarada.
Devolve o meu cheiro, viu?
E vê se leva o teu que esqueceste aqui
É que eu preciso dormir.
Esquece meu rosto,
Meus olhos,
Meus sinais.
Deixa-me livrar do teu gosto
Dos teus olhos,
E de tudo mais.
Enfrento cada meia-noite
Como se a última fosse
São madrugadas de açoite, de rio a correr
É claro que eu sei perder!
Mas é que o sabor doce
Esse, que vinha de um ser
– que hoje eu sei -
Não era você
Ainda faz lembrar feito canção
A tela que eu desejei
O amor que nela pintei
Desperdiçado, largado no chão
Em completo desprezo, desdém
Por alguém que eu criei,
Que nunca existiu, mais ninguém.
A propósito, a saber,
Desprazer em (re)conhecer.


Imagem capturada do blog marianareis.blogs.sapo.pt