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domingo, 29 de março de 2009


Agenda: imposição.
Relógio: limitação.
Olhar: indiscrição.
Convite: sedução.
Encontro: confirmação.
Desejo: transgressão.
Vontade: explosão.
Intimidade: autorização.
Claridade: frustração.
Amanhã, a continuação.


terça-feira, 24 de março de 2009


Prefiro esse coração frágil

Esse jeito exposto,
Meu ser-vitrine,
De braços abertos
E uma confiança
Que não confere documentação.
Assim me sinto mais perto do céu.

Imagem capturada do blog www.minhavidaempoesia.blog-br.com

quinta-feira, 19 de março de 2009



Abra bem os olhos pra poder escutar
Todas as imagens que eu vou lhe mostrar
Olhe ao seu redor e procure entender
O som de cada cena que você pode ver

Transcenda os graus que turvam a fina estampa
É um panorama de maior dimensão
Lentes que te façam enxergar o clarão
E a miopia que te impede e a mim espanta

É o estigma que te estigmatiza
O que se vê é puramente o que se toca
Represente o teu olhar que me banaliza
E o som que vem de mim teus sentidos provoca

Escute o que vê
Enxergue meu som...
O que você quer perceber
Está gravado em meu tom
.
(Olhe, sinta, ouça...
Pulse, grave, sensibilize-se.
Cante, experimente, faça digestão
Prove, beba, permita descobrir
Torne-se capaz de me traduzir.)

Imagem 1000imagens - Roda Viva - Marco Antonio

terça-feira, 17 de março de 2009


Não prendo nenhuma palavra dentro do dicionário.
Seus significados têm asas
E prefiro assim, eu-ser metafórico,
O que compara onde não há parâmetro...
Se é pra explicar:
Simplesmente conoto.
E acato, eufêmica,
A tua dificuldade em entender
Um quatro travestido de dois-mais-dois.
Faço uso sim,
Até onde posso
Pra me fazer compreender
Daquilo que de imperfeito se faz sinônimo:
Uma falta pleonástica,
Um querer redundante
Que neologiza
Que parafraseia, se preciso.
Mesmo sob o risco do entendimento-antítese,
Oposto do que se desejou.
Recuso-me ao óbvio.
Objetivo demais
Pra quem não tem medo de altura...


Imagem capturada do site www.euniverso.com.br

domingo, 15 de março de 2009

Qual é a cor da sua noite?


Cor-de-ausência,
Escuridão?
Vermelho-desejo,
Ávida de beijo?
Laranja-reencontro
Sorriso, festejo?
Cinza-jornal
Sem qualquer informação?
Rosa-carícia,
Cenário irreal?
Púrpura-glamour
Combinando com seu salto?
Branco-sorriso
Feito quem vê do alto?
Verde-esperança,
Que de olhos fechados dança?
Azul-aquário,
Que ignora o horário?
Amarelo-Gaia,
Desejando o amanhecer na praia?
Qual é a cor da sua noite?


Imagem capturada do blog http://naveterra.blogs.sapo.pt

quinta-feira, 12 de março de 2009



Incrédula diante do meu livro-bíblia
Da mais confiável orientação.
Erro crasso,
Equívoco sem perdão
Ensinaram errado,
Vida em vão,
Reproduzida em nome da ilusão.

Verbo amar: intransitivo
Assim disseram
Assim garantiram
Amar, simplesmente
Amor, feito chama
Quem ama, ama.

Esse amor
Se é verbo ou caminho
É cheio de semáforos
Freadas bruscas,
Desvios e interdições.

Quem ama cuida
Quem ama perdoa
Espera,
Entende,
Renuncia,
Esquece.

Amor virou pretérito
Imperfeito
Irregular demais
Para o meu desejo tão imperativo.

E a gramática, meu livro bom
Bem diante de mim
Espera um destino:
Fogo, tesoura ou gaveta,
Como um terno relicário
De dispensáveis reformas,
Das melhores recordações.


Imagem googleada

sexta-feira, 6 de março de 2009

Sobre(o)natural.

Estou definitivamente convencida de que fantasmas existem. Existem sim e seu tamanho e poder são diretamente proporcionais à importância que damos a eles.

No primeiro momento, o susto e as naturais seqüelas de quem vê bem diante de si o que já se foi. A palidez no rosto, os infinitos instantes de catatonia, o corpo trêmulo, um respirar sem obter o ar necessário.


E ainda que emanem medo, os fantasmas conseguem aos poucos ir ampliando seu espaço, como se pudessem sobrepujar o tempo e o seu lugar reservado no passado, adquirindo a mobilidade indicativa do presente, o poderio da cotidianidade. E assim, passamos a freqüentar gavetas há muito esquecidas, caixas que pareciam definitivamente fechadas, antigas canções de um repertório já arranhado voltam ao topo da "playlist", fotos amareladas ganham de novo cor, deitamos sob lençóis de um cheiro revigorado. Presença reassumida. Fantasma institucionalizado.


E os fantasmas, nesse estado sem estado definido, se encaixam perfeitamente no vazio do quase. Do que foi quase-vivido, do que foi quase-perfeito. E passa a ser esse o rumo a partir de então: o rumo de uma quase-vida. Quase-é, quase se sente, quase se tem. Só que isso tem cara de quase-morte. A necessidade do que é palpável, do que é sensível é muito maior que o "quase" ora oferecido.


Sorte nossa, pois é nesta fresta que estão as chaves. Bem ali, ao alcance de nossas mãos para que tranquemos de vez os caminhos do ontem, aqueles que já foram trilhados e possamos enfim dar seguimento, mesmo que cambaleantes, com algumas baixas e um tanto sem fôlego. Esse rápido momento de decisão é o que abre espaço para os pecados: do fantasma tomar carne ou de diluirmos nosso desejo pleno nas suas possibilidades limitadas. Ou ainda o pecado de interrompermos o filme antes do grand finale pelo simples fato de seu enredo nos intuir um desfecho conhecido ou muito pouco desejado. Talvez seja melhor dar o destino que queremos aos personagens, nos apoderando da cadeira de diretor-deus, capaz de evitar a decepção da platéia, fazendo valer o que foi pago.


No mais, são só fantasmas. Não são inteiros. E nada pode ser inteiro, porque fantasmas carregam consigo, na bagagem, as mesmas roupas, os mesmos textos. Tropeçam nas mesmas pedras, engasgam nas mesmas sílabas. Sob seus pés, a mesma areia que sujou nosso tapete. Nada adiante. Nada imprevisível. Todas as portas, todos os caminhos precisam que nos viremos para trás para serem vistos. E lá, o sol já se pôs.


Podemos chegar a essa consciência em segundos. Ou em anos. Ou depois de várias vidas. Mas é só de posse dela que poderemos guardá-los na inviolável caixa das boas lembranças, de vidro blindado e chaves perdidas, onde ficarão confortavelmente adormecidos e que podem ser seguramente visitados. Estarão lá, para sempre. Recobertos de uma beleza que os tornará inofensivos e periodicamente presenteados pelos nossos sonhos e sorrisos.


Estou definitivamente convencida de que fantasmas existem. Existem sim e seu tamanho e poder são diretamente proporcionais à importância que damos a eles. Mas se você for o fantasma de alguém, considere apenas o primeiro parágrafo e faça dele um mantra. Do lado de lá, essa história tem outras cores, outros motivos e explicações. E não há ceticismo capaz de imperar.



Imagem capturada do blog: medicinaespiritual.blogspot.com


domingo, 1 de março de 2009

Eu queria mesmo era não ter assunto. Não ter muita coisa a dizer e assim, estar livre para desenhar poeminhas rasos, textos movidos pelo acaso. Falar do som contínuo dessa chuva que cai e que é a música que ouço desde a madrugada. Mas eu vi e vivi a madrugada inteira febril, com a vontade quase necessária de transformar qualquer parte desse todo em palavra, como se isso fosse para mim um remédio, um antitérmico, um antiespasmódico, um antiséptico, um antiofídico, que fosse. Bastava ser “anti”.

Fosse eu mais inteligente, teria feito uso de um anticoncepcional e não estaria aqui a parir palavras em forma de polígonos estranhos que tornam o parto mais doloroso e demorado.

Agora eu preciso é de antídoto. Algo que reverta o efeito, que não faça do dia de amanhã uma necessária e previsível ressaca. Será que aceitam devolução? Uma devolução assim, agendada, que eu possa ficar mais um pouco, mesmo que para isso eu tenha que perder o que já paguei.

É que as prestações – eu não sabia – vão ficando crescentes e é daqui a pouco que me torno um ser inadimplente. Falta pouco para esvaziar o bolso, o coração, o tempo, as possibilidades, as vontades. Em superávit restam-me apenas as idéias, a mente povoada delas, germinando descontroladas, feito pragas de lavoura, mas que não servem de nada. Não pagam, não explicam, não resolvem, não constroem. Ninguém compra, ninguém ouve, ninguém leva a sério, e o que é pior, quase ninguém entende.

Boot. Format. Sem backup, por favor. Quero começar tudo de novo.


Eu não sei o que o meu corpo abriga(...)

Imagem capturada do blog: www. tiagogebrim.blogspot.com