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sábado, 26 de junho de 2010

Ode (io) à métrica - um sentimento de samba



Te desejei poema livre
Sopro de letra ou canção
Rascunho do qual se vive
Suspiro solto, sem pretensão.

Mas eis que nesse instante não tenho o mote
Vai ver que agora me falta é sorte
Pra me desprender da tua imagem
Pra ver revelar outra paisagem
Pra poder somente falar de mim

Sim

Vai ver minha veia de samba é fraca
Não sei como aproveitar ressaca
Pra compor tão bonitos versos
Pra seguir caminhos mais certos
Pra encontrar outra estação

Não

Quem sabe isso é coisa de despacho
Aquilo que procuro, sempre acho
Não sei onde foi que tudo deu errado
Me empreste seu lenço, muito obrigado
Acho que fui triste dessa vez

Talvez

Melhor compartilhar teu calar
Melhor sentir fundo o meu penar
E sonhar com dias coloridos
Com os olhares proibidos
Nossos desejos distraídos

Quem sabe...

Imagem capturada do blog http://4.bp.blogspot.com
Sugestão pra ouvir: Tristeza Pé-no-Chão

sábado, 19 de junho de 2010

De sexta pra sábado, entre Josés e Franciscos



Era sexta. E José sai pra descansar como se fosse sábado.

É sábado. E Francisco é festejado, como o domingo, que é lindo, novela, missa e gibi.

Um vai. O outro fica. Ambos, inteiros, se deixam para todos. Paratodos.

José, o Saramago é um exemplo emblemático do que é extrapolar, ir além. O senso-comum o restringe ao universo cinematográfico do "Ensaio Sobre a Cegueira" ou de frases pinçadas pelos mecanismos de busca da modernidade, que aproximam a todos da epiderme de tantos, fazendo tuítar vorazmente. Assusta. É muito mais que isso. Foi além de livros, de fronteiras e nacionalidades. Doou suas palavras a todas as causas que o comoviam e as cedia como arma de luta em manifestos, cartas abertas, abaixo-assinados, notas e tantas outras formas que transformaram sua literatura num gigante de infinitos braços. A pontuação que insultava o fôlego dos desavisados, anunciava: falta ar nesse mundo turvo.

O outro, o Francisco, o Chico, ignora. Ignora o tempo, o gênero, a censura, a polícia, o entendimento reto. É homem a ponto de se fazer mulher para dizer fazer sentir o ser feminino. Fala de um amor inteiro, que chora sem esconder os olhos nem medir a altura dos soluços. Muito menos sem se preocupar com o rastejar aos pés da cama. É trilha de vida: de paixão, de ciúmes, de traição, de separação. E assim, junta pedaços de nós.

Em comum? Genialidade. Postura. O que desafiou em metáforas sutis a repressão escancarada da ditadura. O que criticou Barack Obama pelo bloqueio econômico à Cuba, revelando sua insatisfação após a euforia da esperança. O que declara voto, concorda que poderia ser bem melhor, mas ainda assim diz ao “caro amigo” o que acha: “volta, que as coisas estão melhorando”. O que se manifesta contra a pedofilia, o machismo e pelas causas ambientais. O que se assume: tímido no palco, tricolor e melhor escritor que músico.

Um não crê em Deus e o outro não se pune, nem deixa punir. Um não tem medo da morte, o outro roga pela vida. Donos de palavras, mais uma vez se distanciam apenas pela forma de dizê-las. De mãos dadas, questionadores do mundo.

Ambos fizeram da vida o seu melhor espetáculo. Usaram do tempo, deram voltas na história e construíram para si, intencionalmente ou não, a imortalidade. Aqui ou lá, seja “lá”, o lugar que for, jamais comporão repertórios de perda. Serão sempre ganhos. Sempre atuais. Sempre consultados. Sempre ouvidos. E do lado de cá, seja “cá”, também, o lugar que for, em qualquer tempo, haverá sempre público. Haverá sempre aplauso. Haverá sempre estréia.

Roda mundo, roda gigante!

Ambos permanecem. A ambos festejar e celebrar. A palavra se faz vida. E nela, nenhuma tarefa termina. “Deus lhes pague!”

* Trechos do Chico, em itálico;
** Sugestão pra acompanhar: Roda Viva

sábado, 12 de junho de 2010

Dos Caminhos


Você ainda,
E eu já
Você se,
E eu sim
Eu bem aqui,
Você lá
Eu estrada,
Você, fim.

Imagem capturada do blog www.danceando.wordpress.com

terça-feira, 8 de junho de 2010

Presente!

Porque quem tem amigos de verdade, pode se deixar falar por eles...
Obrigada, My, por me fazer mote da tua poesia!!!

Presente de aniversário publicado no Blog Tudo Junto, Meio Misturado.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Das datas


Muitos hão de perguntar:
- E quantas primaveras são?
Mas a boca silencia
Pois já parei de contar
E nem atento pra estação
Desde o chuvoso dia
Em que tive que aceitar:
Que as flores não chegarão.

Imagem editada, capturada em original no site www.casadart.com