Páginas

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Profilaxia



Contra dores lancinantes no peito,
Acessos de raiva,
Incômodos estomacais,
Lacrimejação excessiva:

VENDA NOS OLHOS.

Em doses diárias,
Permanentes,
Por tempo indeterminado.

(O que os olhos não vêem... O coração sente, indica, alerta, denuncia, sugere, garante!)

sábado, 26 de abril de 2008

Velho Novo Caminho de Ida.

Veja bem
Minha viagem começou.
Tomei a direção,
Engatei a marcha mais forte
Tomei o maior fôlego
E tenho como próxima parada o horizonte.


Está ali bem perto,
Já posso vê-lo.


Tenho peso no pé,
Acelero fundo
E me abasteço com o vento que me passeia os cabelos.
Fotografo cenas
Paisagens
E coloco as molduras que sonho
Para pendurar logo ali adiante,

Nas paredes mais firmes
De onde nada jamais se perdeu.


Observe a minha velocidade
Perceba pra onde meu olhar aponta
Tenho pressa,
Mas não importa o tempo que vai levar.


Veja, olhe, estude o rumo e queira carona.
Não peça, só acompanhe.
Mas se quiser saltar antes,
Atente:
Eu não quero ter que parar

Nem está nos planos voltar.

sábado, 19 de abril de 2008

O beijo e o seu endereço.

Li, tempos atrás um texto que falava sobre o tal “beijo no coração” e os sentimentos desencadeados pelo recebimento do próprio. Não lembro bem do desenrolar, mas lembro que tinha acordo em achar esquisito esse tal beijo.

Há pouco ganhei um desses. Confesso que não gostei e falei isso ao doador do beijo. Não, não foi rejeição minha, tampouco mal-agradecimento. Na verdade acho que a minha necessidade de beijo não era no coração. Não dá pra sentir o calor dos lábios de quem beija no coração... Vai ver que meu desejo tinha um endereço mais visível e mais fisicamente viável e sensível.

Eu não consigo mandar beijo no coração de ninguém. No da minha mãe, talvez. Acho que o beijo no coração possui um carinho muito específico. Aquele carinho que possui um muro largo e resistente entre a boca que beija e o órgão que recebe. Nesse caso, o beijo me parece ficar na altura do peito, e do peito mesmo, não do seio. Quem dera... Será que é porque dizem que coração dos outros é terra que ninguém anda? Obviamente, se não se anda, muito menos se beija.

Estou certa de que no momento em que me deram “um beijo no coração”, essas palavras vieram acolchoadas de um carinho gigantesco. Mas no fundo, no fundo, ainda que meio inconsciente, a intenção é outra. É como mandar um “beijo no juízo” Já ouviu esse? Eu já. Pra mim não passa de um recado, do tipo “cuide-se, tome juízo!” O beijo no coração também tem seu recado implícito, ainda que pra mim, escancarado. Mandar esse tipo de beijo é pra reconfortar. Algo do tipo: um beijo no coração pra você que tem o seu tão inquieto, agoniado. Esse beijo no coração traz no bolso um elixir de paz, alento. Beijo no coração é quase um ansiolítico!

Só se for pra você. Beijo no coração me deixa nervosa, não me aquieta a alma , não me causa nenhum arrepio, nenhum suspiro, muito menos tira do casulo as borboletas que tanto querem bater asas no estômago...

Nunca vi carinho tão fisiologicamente comentado. Mas é isso mesmo. Quer me tocar o coração? Beije-me a boca, o olho, a orelha, as costas, a barriga, o pé. A distância, eu garanto, é muito menor, e o resultado, garantidamente eficaz.

domingo, 13 de abril de 2008



Céu meio encoberto, uma meia-lua meio que clareia a noite.
Parece estar tudo definitivamente pela metade e a única coisa por inteiro é a minha consciência. É de tamanha amplitude, de tão imensa claridade que nada se justifica por completo. Fica tudo no meio do caminho.

No rádio do carro, as canções não tocam até o fim. Até o refrão, tudo bem, mas dali em diante tudo parece e é repetitivo de tal forma que já não convence mais. Todos os poemas ficam inacabados. As primeiras palavras fluem, mas titubeiam nas vírgulas e findam no primeiro ponto de interrogação.

A razão perdeu-se a duas quadras do desejo.
Os planos adormeceram na metade do upload.
As vontades, ainda que fervam, ficam por aqui, pois não há certezas nem energia suficiente para se lançarem.

Talvez o estado adolescente de incompreensão seja mais propício ao teste, à loucura, ao risco. A lucidez dá a mão ao medo e se converte numa resistência tão sólida que não ousa sequer a ter a visão do precipício. Já não se cogita pular, nem pelo prazer do vôo.
Talvez eu tenha comprado gato por lebre e talvez eu tenha escolhido gato por saber lidar melhor com eles...

Mas de todas as consciências, a que mais perturba é essa certeza equidistante de que no meio, nada fica. As duas pontas do nó final estão em algum lugar esperando ser atadas. Basta que se retome o caminho e chegue até lá.

O problema é que no meu caso, esconderam o acelerador...





sábado, 5 de abril de 2008

...Equalizando...

Todos os versos jogados ao vento,
Nenhuma palavra repousa quieta sobre o papel
Desde que essa porta fora aberta
Nada mais ficou no lugar.

Lutei pela chave,
Briguei para ver o lado de lá
E agora, feito pássaro em gaiola aberta
Coagido pelo medo do inseguro,
Seduzido pelo cheiro da liberdade
Temo o poder e a resistência das próprias asas e
Assisto sem ação
À desordem estabelecida
Como quem decora o lugar
Que não quer mais estar.

Mas é tudo resolvível:
Se as saudades têm endereço certo,
Mando carta pra cessar.
As lágrimas, findam a estação da aridez
E têm agora horas contadas pra estancar.
E restando o chão molhado
Há de brotar a novidade
Coração fértil florindo em rimas
As próximas páginas a escrever.