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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Toque de Recolher



Pelo asfalto corre o medo
Daquilo que era pra proteger
Num vermelho vivo
De juventude impedida,
De vontade interrompida,
De olhos que fecham mais cedo
Sonhos obrigados a adormecer.

Indignados gritam pelos conceitos
Cidadania, humanidade
Sistema falho, revela os defeitos
Fala mais alto a impunidade.

De quem é a culpa, senhor?
Tá assustado, doutor?
Da segurança do seu vidro blindado
Sequer demonstra estar preocupado.
Pois deveria!
Chegou o dia
Em que a dor desce a favela
Mostra sua cara, revela a mazela
Deixa de doer só em quem sofre com ela.

A dor é grande, é de todo mundo,
Maria, Bruce, Joana e Raimundo
E tudo em claro, bem na sua frente
E até quando vai ser indiferente?

A indignação não pode escolher cor
Raça, gênero, classe social
Que te choque a violência, o horror
Que toque no teu peito igual
Que jamais te pareça banal.
Direito à vida não se estigmatiza
“Polícia para quem precisa.”

Em memória de Bruce Cristian, de 14 anos e tantos outros, anônimos, longe de serem ilustres e que sofrem, quase silenciosos, longe dos holofotes e da comoção nacional, a violência que toma conta das cidades.

32 comentários:

Unknown disse...

É preciso gritar. Belo grito, Moni.
Abraço

Feitosa Rocha disse...

Só uma palavra: emocionante!

Talita Prates disse...

belo e pertinente grito poético, Moni.

um bjo,

Talita.

gloria disse...

A poesia tem olhos por todos os poros, sentimentos que tateam aqueles que enxergam o tanto que sentem. Tão belo, tão vivo o teu poema quanto a cena que nos atravessou e ficou!

bjs linda!

Carol Freitas disse...

De onde nascem o medo e a idignação, tb nasce o poema.

Adorei ler e refletir junto.

Beijo!

André Salviano disse...

A violência banalizou, mas são poemas assim que fazem a diferença. Porque devemos nos acostumar ao que é belo e não ao que nos fere.


besos,
@paraquenomes

RICARDO disse...

Moni

Belíssima "homenagem/verdade".Anônimos engrossam dolorosas estatísticas muitas vezes estimuladas pelo destempero e despreparo da nossa polícia.A dor é geral,alheia as ignorãncias estáticas de valores invertidos.Quem é (mal)pago para proteger acaba, muitas vezes, sendo (bem) pago para desproteger.A moral é venal e a vida?Será assim tão banal?

Bravo Moça!

(Aproveito o momento para me confessar encantado e feliz com suas visitas e comentários no meu blog.)
Beijos de fã!

Ricardo

Aninha Kita disse...

Lindo, Moni!
Lembrou-me letra de música, talvez de um rap! Quem sabe um dia alguém ainda musique. rs

É cruel, mas sempre real.
Como diria um amigo meu, ao menos há quem transforme a desgraça em poesia.

Beijos!
Ana

P.S.: Fortes imagens! Além de toda a força das palavras.

Rafael Sperling disse...

Gostei, Moni, ficou muito bom. Gostei da temática diferenciada também...
bjs

Gordinha disse...

O que me alivia é saber que alguns ainda se indignam com os acontecimentos independente de estar ou não, tão divulgado na mídia.

Que Deus ajude essa familia a se recuperar pela perda...

Abraços.

Sidnei Olivio disse...

Belo canto de indignação e realidade, uma visão poética sobre a cidade. Beijos, querida.

Fê Costa disse...

Sem palavras - foi de tirar o fôlego !

Perfeita homenagem e muito merecida por sinal.

Como pai e filho, torço muito por um país com condições iguais e se não for possível, pelo menos um tanto próximo disso. O que não podemos é aumentar a lacuna.

Parabéns pela sensibilidade e talento, que graças ao bom Deus te sobra.

Ainda bem que derramas poesia sobre as mazelas do dia-dia, ainda bem !

Beijo enorme.

Unknown disse...

Teu ombro-poema há de encharcar-se com a lágrima sôfrega por justiça.

Como vc diz: Coisa de quem sabe ser!

Lindo, comovente e motivador.

Bjo

Alexandre Lessa disse...

Uma homenagem póstuma com a intensidade necessária! A sociedade precisa de mais gritos como o seu.

Muito bom o poema!

Abraços!!

ítalo puccini disse...

"nossas armas estão nas ruas
é um milagre
elas não matam ninguém
a fome está por toda a parte..."

na voz da adri calcanhotto.

teus versos ficaram fortes. propositalmente fortes. ficou perfeito isto! mexeu com o leitor.

beijão!

Léo Santos disse...

Papo sério! E nós, os poetas anônimos, fizemos a nossa parte quase insignificante: - Joguemos aos quatro ventos nossas letrinhas queixosas!

Um abraço!

Barbara C disse...

Seu jeito que escrever é o que mais gosto. Um dia irei aprender.

Beijos Moni!

Renata de Aragão Lopes disse...

É de se indignar, de fato!

Acho curioso
como só se fala
ENFATICAMENTE
em direitos humanos,
quando são os réus
os seus titulares...

Parabéns, Moni,
pela brava abordagem poética!

Um beijo,
Doce de Lira

Poesia Cibernetica (Berg) disse...

Forte e real.

Myrela disse...

Quando soube, atrasada, pois de longe ninguém teve notícias, pensei: A Bond's vai escrever sobre isso... Bingo!!!
Já esperava algo assim: cheio de "beleza" triste e emoção.

Vitor Samuel disse...

Todos nós devemos nos conscientizar que o problema é de todos e não só de alguns, a violência já bateu a nossa porta e faz moradia na nossa sala, cabe a nós expulsá-la de vez de nossas vidas.

Ótimo texto.

Hamanda Freires disse...

Um grito de justiça através de uma união perfeita de palavras!

Paulo Rogério disse...

Injustificável!
(Entretanto previsível, tamanha a subjetividade da educação policial, dos fins das abordagens isoladas de pessoas e veículos,....).
Se tanto já impacta a morte de jovens mesmo ditos do mundo da marginalidade, imagine-se a de um aprendiz vindo do trabalho na garupa da moto com o pai...
Belo recado!
Beijo!

Francisco de Sousa Vieira Filho disse...

Frente a vil-lência "a gente somos inútel" se não agirmos em conjuntos - aprecio mais o agir da sociedade civil organizada que o do Estado [tá na hora de pormos a mão na massa]: vizinhança vigilante e td mais...

aluisio martinns disse...

te peço, nunca cale
grite assim, indignada e digna
quem sabe uma guinada na vida...
lindo, linda

Ivan Bueno disse...

Oi, Moni.
Esse seu toque de recolher serve para qualquer época do ano, mas neste ano eleitoral acho que deveríamos gritar mais alto.
Nós é que temos nos escondido atrás das grades das nossas casas, e a bandidagem é que governa (com e sem gravata).
Gritar é preciso. Eu me sinto perdido neste ano eleitoral (e já há anos), pois sinceramente não tenho um candidato digno para votar seja em que cargo for. Sem exagero. É deprimente falar eem democrracia quando os mesmos "ditadores disfarçados" tentam se perpetuar no poder. Acabamos por tentar escolher o menos ruim. Quanta ironia!
Neste ano estamos a escolher entre a amiga do amigo do Ahmadinejad, do Hugo Chavez, do que se cala diante dos assassinatos de Fidel ou entre o continuísmo do que havia antes.
O Brasil melhorou em termos de economia? Sim. Mas a distribuição de renda não ocorreu, a reforma tributária também (pois retiraria dinheiro a ser desviado de circulação) e a eterna lama governista (seja quem esteja governando) é um moto perpétuo, um vício incurável.
Ouvi o toque de recolher... Hora de me calar, senão o bandido sou eu, por me manifestar.
Beijo grande, continue gritando.

Ivan Bueno
blog: Empirismo Vernacular
www.eng-ivanbueno.blogspot.com

Marcelo Novaes disse...

Moni,



Dito no tom e ritmo certos.





Um beijo.

nydia bonetti disse...

pela porta
das injustiças
entram as dores

por esta mesma porta
Aafome, a raiva
a violência, o vício

junto com eles
a morte

inútil trancá-la

invasiva
ela atravessa frestas
se espalha e se aloja
do lado de dentro
e do lado de fora

já não há trancas
que possam contê-la

ainda assim
portas trancadas

- o medo escancarado.

beijo, moni.

Letícia Losekann Coelho disse...

E precisamos cada vez mais de poemas como os teus. Poemas que falam a verdade e fogem da mesmice... Poemas que tratam do nosso social.
Gostei muito de te ler!
Beijos

Felipe Carriço disse...

Não foi só vidro que se tornou blindado com medo da vida real.

Gritemos.

NDORETTO disse...

Um poema digno cantando o caráter. E gritando por ele. Fortíssimo! Adorei!
bjs
neusa

Anônimo disse...

Meus parabéns. Ainda não havia lido este. E obrigado pela presença no InterTextual.